01 março 2011

A PESQUISA ARQUEOLÓGICA NO VALE DO PARAÍBA

Embora o Vale do Paraíba, possua um grande potencial para estudos arqueológicos, são poucos os projetos de pesquisa nesta parte do estado de São Paulo.
As primeiras referências sobre achados arqueológicos no Vale do Paraíba paulista ocorreram no município de Aparecida, onde em 1908, foi encontrada uma urna funerária no pátio da antiga Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil. Em 1928, outra urna, desta vez com tampas e ossos humanos, foi encontrada em um terreno particular.
Com o desenvolvimento urbano, na medida em que foram sendo encontrados novos objetos, a pesquisadora Conceição Borges Ribeiro de Camargo efetuava a coleta do material.
Porém, pesquisas sistemáticas somente foram realizadas em Aparecida no ano de 1957, por intermédio dos trabalhos desenvolvidos por Herta Loel – Scheuer. Segundo a pesquisadora, o “Largo da Feira”, local onde foram encontrados, em 1935, cerca de 40 vasos, parte contendo ossos humanos, é ainda hoje riquíssimo em fragmentos e manchas de terra preta. Atualmente, alguns dos objetos encontrados fazem parte do acervo do Museu da Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida.
Em 1969, Silvia Maranca, localizou durante o Programa Nacional de Pesquisa Arqueológica – PRONAPA – vasilhas cerâmicas nos municípios de Aparecida do Norte, Roseira e Guaratinguetá. Na publicação “Dados Preliminares sobre a Arqueologia do Estado de São Paulo”, a pesquisadora diz que boa parte destes vestígios deve pertencer ao que, na Arqueologia Brasileira, se denomina “Tradição Tupiguarani”. Apontou ainda que o Vale do Paraíba constitui uma importante região para a realização de estudos arqueológicos.
No ano de 1936, Ruy Tibiriça cita o encontro de cerâmica indígena próxima ao Rio Paraíba, na cidade de São José dos Campos. No final da década de 40, através de intervenções levadas a efeito pelo Prof. Dr. Otaviano de Fiori Cropani, foram pesquisadas outras áreas do município e diagnosticado material arqueológico e coletado alguns objetos cerâmicos e líticos atribuídos aos primeiros aldeamentos ali existentes.
Durante a década de 80, foram encontradas ocasionalmente duas urnas funerárias em pontos distintos do município: uma na região onde atualmente encontra-se o bairro do Bosque dos Eucaliptos e outra novamente no bairro da Pernambucana, nas proximidades do Putim. Contudo, em nenhum desses casos foi realizada uma pesquisa aprofundada no local.
A partir de l993, com a criação de uma Diretoria de Patrimônio Cultural na Fundação Cultural Cassiano Ricardo, iniciou-se trabalhos arqueológicos voltados para a recuperação do Patrimônio Arquitetônico de São José dos Campos. Dessa forma, durante as obras de recuperação da Biblioteca Municipal, foi encontrado um sítio arqueológico do período histórico, cujas escavações revelaram um significativo material do século XIX.
Em maio de 2004, outra urna funerária tupiguarani contendo uma ossada foi encontrada no bairro do Putim em ocasião da construção de um estacionamento.
Moradores do local informam que no terreno bem à frente a área da descoberta havia uma capela, denominada Santa Cruz da Panela, possuindo este nome devido ao fato de haver sido encontrada neste local uma “panela” (na verdade uma urna funerária) com ossos humanos dentro. Esta capela teria aproximadamente duzentos anos e havia sido demolida por volta do final da década de 90 e estava relacionada ao local onde na década de 40 Otorino de Fiori havia constatado a presença de material arqueológico.
Em Jacareí, os primeiros indícios arqueológicos de que temos notícias dizem respeito aos vestígios cerâmicos encontrados durante as obras de uma estrada nos anos de 1970. Contudo, somente em 1991, o sítio foi alvo de estudos, trabalhos realizados pelos arqueólogos Oldemar Blasi e Miguel Gaissler, pesquisadores do Museu Paranaense, resultando na identificação de um significativo sítio arqueológico, o Santa Marina.
Neste período, através dos Estudos de Impacto Ambiental, foi realizado também um levantamento em toda área de implantação da Rodovia Carvalho Pinto, sob a coordenação da Profª. Dra. Solange Caldarelli, resultando na identificação de seis sítios arqueológicos em toda extensão da rodovia. Cinco desses sítios eram de natureza histórica e foram localizados nos municípios de Caçapava, Taubaté e Jacareí.
O sexto sítio, Caçapava 01, foi identificado como pertencente ao grupo indígena Aratu, apresentando os primeiros indícios arqueológicos da presença do grupo Jê pelo Vale do Paraíba.
Tanto o sítio Santa Marina, em Jacareí, como os sítios encontrados durante as obras da rodovia Carvalho Pinto em Caçapava, Taubaté e Jacareí, são de grande importância para a pesquisa arqueológica na região, pois marca o início da arqueologia de contrato no Vale do Paraíba, estabelecida no artigo 225 da Constituição de 1988.
Contudo, os trabalhos iniciais no Sítio Santa Marina em Jacareí, não esgotaram as potencialidades do sítio. Em 1997, a Fundação Cultural de Jacareí, adotou uma Política Pública para o Patrimônio Arqueológico do município, viabilizando novas pesquisas no sítio Santa Marina, agora sob a coordenação dos arqueólogos Dra. Erika M. Robrahn-Gonzalez e Ms. Paulo E. Zanettini.
Esses trabalhos permitiram a recuperação não só de vestígios materiais deixados pelo grupo indígena que ali habitou, mas também forneceu uma melhor compreensão dos assentamentos ocorridos nesta região durante o período pré-colonial, estabelecendo a primeira datação arqueológica para o Vale do Paraíba e confirmando a presença dos grupos portadores de cerâmica Tupiguarani nesta parte do Estado de São Paulo.
A partir dessas pesquisas Jacareí passa adotar uma série de medidas procurando conter a destruição de sítios arqueológicos no município antes de uma prévia pesquisa. Assim, foram identificados mais cinco sítios arqueológicos. Três deles, de natureza indígena estavam localizados em áreas de grandes empreendimentos e foram submetidos a trabalhos de salvamento arqueológico – Sítio Rio Comprido, Pedregulho e Villa Branca.
Com as pesquisas realizadas foi possível comprovar a ocupação de terras valeparaibanas pelo grupo tupiguarani.
O sítio Light foi o quinto sítio de natureza indígena estudado na cidade de Jacareí pelos arqueólogos Claudia Moreira Queiroz e Wagner Gomes Bornal. Localizado em 2000 ás margens da represa de Santa Branca, este sítio diferencia-se dos demais por tratar-se de uma antiga ocupação do grupo Aratu, o mesmo grupo verificado em Caçapava em 1991.
Durante o período de trabalhos de campo, a equipe constatou ainda a presença de material arqueológico bastante semelhante na outra margem da represa, no município de Santa Branca.
Os três outros sítios identificados e pesquisados na cidade de Jacareí nos remetem ao período histórico, caracterizado por duas fazendas do período cafeeiro no século XIX, a Chácara Xavier e a Fazenda Santana do Rio Abaixo e uma residência da rede ferroviária que data do início da década de 1920.
Apesar de várias pesquisas já terem sido realizadas no município, a Chácara Xavier é um importante marco dentro desse processo, pois além de sua importância como patrimônio histórico e arquitetônico, foi também o primeiro sítio histórico trabalhado na cidade, resultando em dados significativos para que pesquisas futuras em outros sítios da mesma categoria possam ser avaliados e a partir daí traçarmos um perfil dos sítios históricos do Vale do Paraíba.
Em 2000, durante as obras de implantação de um conjunto habitacional no município de Canas foi diagnosticada a presença de outro sítio arqueológico no Vale – o Sítio Caninhas, o qual passou também por trabalhos de pesquisa, que resultaram na obtenção de um dos maiores acervos cerâmicos da região. Tratava-se novamente de uma área ocupada pelo grupo Tupiguarani, confirmando a vasta expansão desse grupo pela região.

Um comentário:

  1. Boa noite Claudia, como vai?

    Meu nome é Luiz Fernando P. Sampaio, sou Historiador (Bach./Lic.) pela Unesp, especializando em Ciências da Religião pela PUC-SP, e professor de História e Ensino Religioso na rede estadual e privada de Jacareí. Realizei alguns cursos de extensão, formação e capacitação em Arqueologia desde 2008. Contudo, nunca consegui realizar um estágio de trabalho de campo. Você saberia me dizer se está ocorrendo algum trabalho de campo em Jacareí, São José dos Campos e região, que aceitaria um estagiário? Ou, quem sabe, mesmo em laboratório? Gostaria muitíssimo de ter essa experiência.

    Agradeço por sua atenção.

    Cordialmente,

    Luiz Fernando -http://lattes.cnpq.br/3998141217790326

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